O poder da simplicidade na inovação | EP 10 José Adriano Talks com Gustavo Caetano

Por José Adriano

Inovação não é sobre complexidade. É sobre resolver problemas reais, de forma diferente.
Essa foi a provocação central do décimo episódio do José Adriano Talks, uma conversa inspiradora com Gustavo Caetano, fundador da Sambatech, investidor, conselheiro e uma das vozes mais respeitadas em inovação no Brasil.

Gustavo fala com a leveza de quem viveu cada etapa da transformação digital — da era dos primeiros games ao universo da inteligência artificial — sem jamais perder o foco no essencial: entender o problema antes de pensar na ferramenta.


Inovação é mais simples do que parece

A primeira frase do episódio já resume a tese de Gustavo:

“Inovar é resolver problemas reais de um jeito diferente.”

Durante muito tempo, inovação foi tratada como sinônimo de tecnologia de ponta, disrupção radical ou grandes investimentos. A consequência foi previsível: muitas empresas sofisticaram seus discursos, mas perderam o foco prático.

Gustavo lembra que inovação começa com uma pergunta simples — “qual problema estou resolvendo e para quem?” — e ganha força quando as respostas são profundas o suficiente para chegar à causa raiz.
Essa é a base da inovação que realmente transforma: a que nasce da escuta, não da moda.


Uma trajetória de reinvenção constante

A história de Gustavo é um caso prático do que ele ensina.
Aos 19 anos, em Araguari (MG), decidiu não seguir a tradição médica da família e estudou marketing no Rio. Lá, percebeu uma oportunidade: em 2004, não havia jogos disponíveis para celulares no Brasil. Criou a Samba Mobile, negociou com empresas europeias e trouxe os primeiros jogos móveis para o país — antes mesmo da Apple Store e do Google Play.

Anos depois, antevendo o fim desse modelo, fundou a Sambatech, um “YouTube corporativo” que levou o streaming a gigantes como Globo, Band, Record e Editora Abril, além de transmitir a Copa do Mundo para emissoras internacionais.

E quando o mercado amadureceu, reinventou-se novamente: pivotou o negócio para o ensino digital, atendendo grandes grupos de educação e universidades. Hoje, vive a terceira fase de sua jornada — a era da Inteligência Artificial — ajudando empresas a fazerem “dez vezes mais” com IA.


O conselheiro que provoca o status quo

Ao longo da conversa, Gustavo compartilha bastidores da sua atuação em conselhos de grandes grupos — ArcelorMittal, Baterias Moura, C&A, Instituto Ayrton Senna, entre outros.
Ele destaca um ponto essencial: a cadeira de conselheiro é, por definição, um lugar de desconforto.

“Eu nunca trabalhei com aço, nem com banco, nem com varejo. Mas é justamente aí que mora o valor: eu posso questionar o que parece óbvio.”

Essa mentalidade de aprendizado contínuo — o growth mindset — é o que torna conselhos mais diversos, criativos e capazes de inovar.
Gustavo defende que conselhos vencedores combinam experiência e curiosidade, números e propósito, governança e ousadia.


O poder das pequenas inovações

Outro ponto forte do episódio é o desmonte do mito da “grande transformação”.
Gustavo lembra que a C&A, por exemplo, cresceu de forma exponencial nos últimos anos não por projetos bilionários, mas por pequenas inovações consistentes, escolhendo as batalhas certas — aquelas que realmente movem o ponteiro.

“Muita empresa caça vagalumes: um monte de ideias soltas que brilham por um tempo e somem sem deixar resultado.”

Inovar, portanto, não é lançar dez iniciativas simultâneas. É ter coragem de dizer “não” às distrações e “sim” ao que gera valor real.


De 10% para 10x: o novo pensamento exponencial

Gustavo introduz uma mudança de mentalidade essencial: sair do pensamento incremental (melhorar 10%) para o pensamento exponencial (melhorar 10x).
O exemplo clássico é o da Amazon Go, que eliminou o caixa e redefiniu a experiência de compra. Ou o Nubank, que questionou o princípio de que abrir uma conta exigia assinatura presencial.

“Quando você pensa em fazer 10x melhor, é impossível continuar fazendo do mesmo jeito.”

A lógica é simples: primeiro, mude os processos; depois, use tecnologia como acelerador.
Fazer o mesmo, apenas com IA, não gera revolução — só disfarça a ineficiência.


A cultura que mata a inovação

Mesmo com tecnologia e talento, a maior barreira continua sendo a cultura organizacional.
Empresas que só cobram resultados de curto prazo não dão espaço para o novo. E aí surge o que Gustavo chama de “glóbulos brancos corporativos”: áreas que deveriam proteger o negócio, mas acabam destruindo qualquer tentativa de inovação.

A solução, segundo ele, é equilibrar o foco com a estrutura. O modelo sugerido é simples e poderoso:

  • 70% do tempo: melhorar o core business (eficiência).
  • 20%: expandir o core (novos serviços e parcerias).
  • 10%: experimentar o novo (com dados seguros e ambiente controlado).

Pequenas vitórias geram confiança. E confiança sustenta a mudança.


Educação, IA e a nova geração

No encerramento do episódio, Gustavo compartilha um novo projeto: a criação de uma faculdade do futuro, em Belo Horizonte e Nova Lima.
Seu objetivo é formar profissionais desde o primeiro dia com a IA como parceira de aprendizado, não substituta.

“As faculdades estão preparando alunos para um mundo que não vai mais existir. Proibir o uso do celular é o mesmo que negar o futuro.”

Ele e eu, como pais e educadores, convergimos nesse ponto: a tecnologia deve ser assistente, não atalho.
Sem repertório, a IA responde de forma rasa. E sem boas perguntas, nem a melhor ferramenta gera boas respostas.


O futuro: agentes inteligentes e a tempestade perfeita

Gustavo antecipa a próxima revolução: a era dos agentes autônomos de IA, capazes de executar processos sozinhos — do atendimento ao cliente à logística reversa.
Mas o alerta é claro: quanto mais poder damos à máquina, maior deve ser o controle ético e técnico sobre o que ela faz.

Ele chama isso de “tempestade perfeita”:

  • IA em crescimento exponencial,
  • poder computacional mais barato,
  • robótica acessível,
  • e a exploração do espaço como nova fronteira.

Quatro forças que, juntas, vão redefinir o que conhecemos como negócio.


A simplicidade que transforma

No fim das contas, inovação é menos sobre algoritmos e mais sobre atitude.
É perguntar “por quê?” antes de responder “como?”.
É ter coragem de desaprender, escolher as batalhas certas e celebrar as pequenas vitórias.
A simplicidade não é o oposto da sofisticação — é o caminho até ela.

Ouça e participe:

O episódio completo está disponível no Spotify e demais plataformas de áudio. Links em www.joseadrianotalks.com.br


Assista no Youtube e participe:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *