Os desafios da escassez de mão de obra no setor fiscal

Por Marcelo Simões

A partir da regulamentação da Reforma Tributária, em janeiro de 2025 (Lei Complementar 214/25), muito tem sido discutido acerca das principais mudanças trazidas pela proposta e como estas profundas alterações, naturalmente, trazem impactos significativos para os negócios e para o dia a dia dos contribuintes, incluindo no setor fiscal.

As mudanças, nunca é demais reforçar, abarcam tanto a substituição dos impostos hoje vigentes pela sistemática do IVA Dual, a partir da instituição do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), da Contribuição Social sobre Bens e Serviços (CBS) – e do chamado Imposto Seletivo (IS) – quanto uma série de impactos operacionais que variam conforme o segmento das empresas. Como exemplo, é válido citar a introdução do princípio da não cumulatividade para o setor de serviços.

E, ainda que a reforma tenha como principal objetivo simplificar o sistema tributário e trazer mais transparência para a arrecadação de impostos no país, o fato é que a efetividade das mudanças traz também incertezas e desafios para uma realidade já presente na área tributária: a escassez de profissionais especializados no setor fiscal.

Este cenário, naturalmente, cria um contexto de risco para as empresas, que se veem na obrigação de se adaptar às novas regras, enquanto buscam estruturar suas operações para as novas demandas fiscais do país.

A escassez de mão de obra especializada no setor fiscal e contábil, conforme supracitado, não é uma novidade. Para se ter uma ideia, de acordo com pesquisas recentes, 63% das empresas brasileiras apontam uma grande dificuldade na procura de tributaristas qualificados.

Por mais desafiador que se mostre o atual cenário, o momento também representa uma oportunidade para a modernização e evolução do setor fiscal.

E a questão é que, com as novas definições trazidas pela reforma tributária, a situação tende a se agravar. Isso porque, durante o período de transição da reforma – que deve durar 7 anos, entre 2026 e 2033 –, as empresas terão de lidar com a coexistência de dois sistemas tributários (o que esteve até então em vigor e o novo), fato que traz complexidades à atividade tributária e fiscal.

Ato contínuo, esse cenário demanda uma atualização constante por parte de contadores e profissionais da área, que terão de cumprir com as obrigações fiscais e apresentar os novos cenários tributários para seus clientes.

Por sua vez, todo esse panorama estabelece para as empresas a necessidade de capacitação dos talentos no setor fiscal, de modo a mitigar riscos dessa transição, evitando lacunas de conhecimento que possam decorrer em efeitos mais sérios – como o não cumprimento de obrigações fiscais, o que resultaria, possivelmente, em penalidades e custos indesejados.

Sem abrir mão dessa jornada de conhecimento, um caminho para as empresas enfrentarem a escassez de mão de obra se dá a partir do avanço nos processos de automação fiscal, sobretudo quando consideramos o atendimento às exigências de conformidade desafiadoras que se colocam no país.

Basicamente, a automação no setor fiscal se refere à utilização de soluções informatizadas para que toda uma série de rotinas tributárias sejam executadas com o suporte da inovação – do apoio na tomada de decisão de gestores ao controle de entregas de obrigações e cálculos fiscais.

Além disso, ferramentas de automação, hoje, já oferecem funcionalidades sofisticadas de auditoria, justamente para que a operação se mantenha em conformidade com normas e prazos, reduzindo o risco de penalidades por parte do fisco.

Não por acaso, nos próximos 7 anos, os investimentos em soluções tecnológicas para a gestão tributária devem alcançar US$ 47,9 bilhões em todo o mundo, segundo dados da consultoria Fortune Business Insights.

Portanto, por mais desafiador que se mostre o atual cenário, o momento também representa uma oportunidade para a modernização e evolução do setor fiscal, abrindo ainda espaço para a formação de profissionais com olhar mais estratégico e com habilidades digitais que se colocam como diferenciais decisivos no futuro tributário do país.

https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/desafios-escassez-mao-de-obra-setor-fiscal

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *