Quais indústrias de Aparecida de Goiânia podem deixar a cidade por causa da Reforma Tributária?

No início de 2025, foi aprovada a Lei Complementar (LC) nº 214/2025, que regulamenta a Reforma Tributária no Brasil. No entanto, algumas mudanças podem gerar impactos significativos para as indústrias de Aparecida de Goiânia, que podem acabar optando por deixar o município.​

Isso porque os incentivos fiscais devem ser extintos com o novo texto e os empreendimentos podem optar por se mudarem para perto dos principais mercados consumidores dos produtos.​

Primeiramente, é importante entender quais alterações são essas. Conforme o texto, haverá a extinção de cinco impostos: ICMS, ISS, PIS, COFINS e IPI. No lugar, serão criados dois novos tributos que incidirão sobre bens e serviços: Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS).​

Além disso, outro ponto importante é que a cobrança do tributo passará a ser feita no lugar onde foi feita a compra do produto (e não mais no estado de origem do produto), o que pode afetar municípios que se beneficiam com a permanência de empresas exportadoras e indústrias.​

Por fim, a Reforma Tributária também irá dar fim aos incentivos fiscais em todo o Brasil e padronizar a cobrança de alíquotas-base. Ainda não foi definido o número exato, mas a previsão é de que fique em torno de 26,5%.​

Possibilidade de debandada

Um destes municípios é justamente Aparecida de Goiânia. Por ter uma localização privilegiada em nível nacional, a cidade é um grande atrativo para empresas de logística e armazenamento de cargas.​

Ao Portal 6, Leandro de Falco, contador especializado em gestão tributária, afirmou que existe a possibilidade de algumas empresas que se encontram na região optem por se mudar para mais perto dos próprios clientes, tendo em vista o fim da vantagem fiscal.​

“Vamos supor que uma empresa em Aparecida vende principalmente para São Paulo. Por que ela vai continuar em Goiás se a maioria das vendas é em SP? Ela vai mudar pra lá, porque não vai mudar muita coisa”.​

Por outro lado, o especialista, que atua há 17 anos na área, apontou que não deve haver uma debandada da indústria do município, visto que a oscilação tributária seria pequena. Contudo, os varejistas, em especial os que atuam com vendas online, devem ser afetados, por uma questão de logística.​

“É importante para o empresariado cobrar do contador o próximo passo, fazer estudos tributários, para ver se irão se manter em Aparecida ou fazer mudanças“, finalizou.​

Como Aparecida tem se preparado?

O Portal 6 também entrou em contato com o secretário da Fazenda de Aparecida de Goiânia, Carlos Eduardo de Paula, para entender como a administração pública tem enxergado esse novo cenário.​

O titular da pasta apontou que há sim uma preocupação. Isso porque a cidade tem uma forte presença das empresas de logística, mas não necessariamente um alto consumo de produtos e serviços.​

“Aparecida tem uma população grande, mas grande parte dela consome em Goiânia. Então precisamos fazer um esforço especial para ter uma melhor participação”, destacou.​Jornal Opção

Como principal estratégia, Carlos Eduardo destacou que o município precisa buscar estratégias para conseguir maiores arrecadações do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) e do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Isso possibilitará que Aparecida consiga receber uma parcela maior do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS). Valor que será distribuído pelo Governo de Goiás conforme o nível de tributação obtida pelos municípios.​

Questionado sobre como seriam essas estratégias, o secretário listou: integração de notas fiscais eletrônicas, participação das discussões nacionais do fórum de secretários de fazenda dos municípios e atuar em frentes informais de associações, “para se inteirar do processo e trazer para Aparecida o que for melhor”.​

Por fim, Carlos destacou que o município possui um parque industrial diversificado e afirmou ter certeza que a maior parte deve permanecer mesmo com a mudança nos impostos. Contudo, algumas empresas podem sofrer grande perda de receita com as novas alíquotas e repensar a estadia em Aparecida.​

“Alguns setores não vão se conformar de pagar 26,5% [de tributação]”, concluiu o secretário.​

Adaptação das indústrias

O Portal 6 também conversou com André Abrão, diretor jurídico tributário e membro da Associação Comercial e Industrial de Aparecida de Goiânia (Aciag), que explicou alguns critérios-chave para que não haja uma “debandada” da indústria no município.​

“Ela se destaca como polo logístico e de armazenamento, possui muitos centros de distribuição. A posição estratégica é um diferencial, pois consegue atender uma logística no Brasil, sem ser Sul e Sudeste”, detalhou.​

Além disso, André pontuou que, por possuírem estruturas físicas amplas e complexas, haveria dificuldade de reconstruir em outro lugar, que seja mais viável economicamente ou próximo do Sul e Sudeste – principais consumidores dos produtos industriais de Aparecida.

Por fim, o diretor jurídico afirmou acreditar que a maior parte dos empreendimentos devem se reestruturar. Isso por meio de mudanças no modelo de negócio, ampliando a distribuição e logística, e investindo mais em infraestrutura e mão-de-obra.

Visão crítica

A advogada tributarista Isabela Scelzi também analisou de forma crítica a mudança na cobrança de alíquotas e o fim dos incentivos fiscais.

“Isso significa que estados como Goiás e cidades como Aparecida de Goiânia, que utilizavam incentivos fiscais para atrair indústrias, perderão essa vantagem competitiva“, argumentou. 

Dessa forma, ela tem uma visão mais pessimista, afirmando que poderia provocar a saída de fábricas do estado. “Afetaria diretamente a arrecadação tributária e a oferta de empregos na economia local”.

Por fim, Isabela destacou que o texto da Reforma Tributária prevê um período de transição e a criação de um Fundo de Compensação de Benefícios Fiscais, com aportes anuais da União, entre 2025 e 2032. No total, serão R$ 160 bilhões, corrigidos pela inflação.

Isso teria como objetivo minimizar os efeitos negativos que podem acarretar alguns municípios que dependem muito dos benefícios fiscais.

Contudo, a advogada destaca: “há preocupações de que esses recursos não sejam suficientes para compensar as perdas econômicas em estados como Goiás”.​

Fonte: portal6.com.br

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